Arquivo para maio, 2005

Meu amigo Flávio.

Posted in Sem categoria on 28 de maio de 2005 by Dmítri Cerboncini Fernandes

Flávio Vassoler é escritor. Um grande escritor. Substância, temas essenciais, vida, morte, sentido com muito sentimento, falta de sentido com mais sentimento ainda. Com Flávio não há escritinha burguesa metida a besta, infantil-carente-quero-ser-amado-pseudo-intelectual-pós-moderna não. Flávio escreve que nem gente grande, que nem clássicos. A seguir, pequena criação dele, sem que ele me tenha autorizado a transcrevê-la.

“Um rapaz cético e materialista, cujo culto de si próprio já beirava a morbidez, caminhava errante pelo incerto que por certo o incomodava. Vislumbrou ao longe uma velha casa, portões abertos, convite para o desnudar. Entrou. Tão íngreme e estreita a escada que o levava ao interior que sua sensação era a de ser tragado por uma garganta sequiosa por qualquer transcorrer. Um calafrio o percorreu! Não mais uma perna e, então, um passo, mas, assim que se passa, descortina-se a vida em descompasso. Chegou a um quarto, passou a espirrar sem solução. Sujeira, pó, luz fracamente presente desvendando uma presença: um homem ensimesmado, circunspecto. Um velho barbudo, o oráculo. Sentindo certa animosidade por aquela solidez, o rapaz se achegou o mais que pôde para, então, desafiar aquele homem que a tudo se mostrava impassível.
— Diga-me algo, preciso de respostas!
— Hum…
— Cada coisa ocorre a seu tempo?
— Hum!
— Vamos, responda!
— Calma, rapaz… Cada coisa a seu tempo!
— Ora, velho! O que pode me dizer que eu já não saiba?! Julga-se sábio… Vamos, então, me diga algo, responda ao que perguntei!
— Teme o tempo sem as coisas…
— Ora, como ousa! Não temo nada!
— Há até as coisas apesar do tempo…
— Diz para se ocultar, é sempre assim que procede! Não sabe a resposta! Vamos, admita!
— …
— Velho estúpido!
— Julga pelo que vê, toma de pronto o duvidoso pelo certo…
— Julga-me juiz?
— “Não julgue, e não será julgado. Porque do mesmo modo que julgar, será também julgado e, com a medida com que tiver medido, também você será medido. Por que olha a palha que está no olho do seu irmão e não vê a trave que está no seu próprio? Como ousa dizer a seu irmão: Deixe-me tirar a palha do seu olho, quando tem uma trave no seu próprio? Hipócrita! Tire primeiro a trave do seu próprio olho e assim verá para tirar a palha do olho do seu irmão”.
O rapaz sentiu uma profunda dor com aquelas palavras. Tocaram-no sobremaneira, apresentavam-se como dedos em riste. Não poderia, de forma alguma, suportar aquele cale-se! — Pois estou certo de que não há conjugação nenhuma entre o ser e o tempo. Se houver qualquer coisa, saiba, velho, trata-se no máximo de um paralelismo: nossa vivência material se dá no tempo, pode ser mensurada. Daí a perda total de sentido! Ah, velho tosco! Como rio daqueles que querem dar um sentido para toda essa torpeza! Aliás, existe um sentido para a vida! Como não?! É um sentido unívoco, linear, mesmo. Caminhamos para a morte inexoravelmente, não há solução, não há remédio! Disso estou certo! As questões, se postas, resolvem-se aqui e agora!
— Tem certeza?
— Toda.
— Absoluta?!
— Tão certo quanto 2 e 2 resultarem 4.
— Certeza matemática, então?
— Para ser preciso, geométrica.
— Se bem me lembro, e já faz algum tempo, 2 e 2 resultam sempre quatro, não?
— Sempre!
— Independentemente do que queiramos, certo?
— Independentemente!
— E como é que a sua certeza
— E como é que a sua certeza não é a minha?
— Como?
— Como não?
— Ora, velho!
— E se, nesse caso, 2 e 2 forem diferentes de 4?
— Ora, para um místico envelhecido isto é bem possível! Mas, olhe ao seu redor, não há nada! Nada a não ser nós mesmos! Tudo pode acabar a qualquer instante!
— É isso o que você quer?
— Ora! A vida não tem um sentido, só há um sentido que nos leva ao ocaso! Que pena risível sinto daqueles que, ao ver o que se passou, passam os dias com dor a lamentar o que já não mais pode vir! Ora, nós mesmos colocamos significação para o que quer que seja!
— Entendo. Ora se trata de algo objetivo, tão claro e unívoco quanto a matemática. Num outro momento, então, nós colocamos significação para o que quer que seja…
— Como?
— Como não?! Agia por impulsos, não acreditava que aquele velho pudesse se soerguer até onde pensava se encontrar. Aquele cume era só seu, não podia reparti-lo com ninguém, o ar rarefeito por si só não o permitiria.
— O que quer dizer, velho?!
— Digo o que quero?
— Diga algo!
— Receio não poder dizer o que quer ouvir…
— Ora!
— Já chegou a considerar que 2 e 2 podem às vezes resultar diferentes de 4?
— Ha, ha, ha! É impressionante como os velhos abrem mão do pensamento!
— “Talvez existam mais coisas entre o céu e a terra do que julga nossa vã filosofia!”
— Como se resigna! Covarde!
— “Por mais que se esforce, você pode”, com toda a sua coragem, “acrescentar um só dia à duração de sua vida?” A pergunta derrubou-o de pronto, trouxe-lhe a ardência de um tapa.
— Ora, quero lutar, velho – e já entre lágrimas e com a voz tremulante -, quero alcançar algo a despeito do tempo que se esvai!
— E se sentir dor quando alcançar?
— Como?
— Como não?
— Ora, não brinque comigo!
— Mas o que você quer verdadeiramente?!
— Ora, quero… quero… Ficou pensativo por um breve instante, mas nada lhe vinha. Sentiu um ódio crescente daquele ancião extático! Como pode com parcas perguntas derrubar aquilo que de mais sólido possuo?!
— Não quer abrir mão de si próprio, não?
— Quero viver! É isso o que quero!
— Mas se você já vive?!
— Quero mais! Quero alcançar meus objetivos!
— Que são?!
— Ora, posso até enumerar, mas na verdade o hoje não é mais o amanhã… Que dirá o ontem…Só se alcança mesmo a morte!
— Ouça: “quem sabe?, não se pode garantir, mas talvez todo o objetivo sobre a terra, aquele para o qual tende a humanidade, consista unicamente nesta continuidade do processo de atingir o objetivo, ou, em outras palavras, na própria vida e não exatamente no objetivo, o qual, naturalmente, não deve ser outra coisa senão que dois e dois são quatro, isto é, uma fórmula; mas, na realidade, dois e dois não são mais a vida, mas o começo da morte!”
— Não, não! Não aceito a vida que não seja esta, que não seja a materialmente observável! “Para mim a eternidade é uma idéia impossível de compreender, algo de enorme, imenso. Mas por que há de ser precisamente imenso? E, de repente, em vez disso, imagine, velho, que existe aí um quarto, no gênero duma sala de banho – um quarto tão horrendo quanto este – em pleno campo, negro de fumo e com aranhas por todos os lados, e que a isso se resume a eternidade. Olhe, eu imagino-a muitas vezes assim!”
— Quão grande é a sua dor!
— Chega de me interpretar, velho! Vamos, responda! Somos potentes ou não para suportar tudo isso?!
— O ser humano se basta a si mesmo? Não mais agüentando aquilo que considerava um perene esquivar, o rapaz retirou da cintura o objeto que há muito o constrangia. Sem mais, trouxe aquela arma fria e resoluta junto à têmpora do oráculo.
— E agora, velho, quem é que espera o tempo de cada coisa? Se eu apertar o gatilho daqui a 1 minuto, saberei certamente o seu tempo pela minha determinação!
— Enfim encontrou a tensão!
— Como?
— Como não?!
— Ora, chega de brincadeiras. Fez menção de pressionar o gatilho, mas uma curiosidade inapelável o ligava àquele ser que há pouco só lhe transparecia asco.
— Encontrou a tensão, rapaz. 2 e 2 serão 4 se você quiser!
— Como?
— 2 e 2 só serão 4, rapaz, se você assim o fizer!
— Impossível!
— É o seu arbítrio, jovem, seu livre-arbítrio!
— Não é possível, não posso escolher nada! Se tudo já está dado sem que eu tenha participado da definição dos limites…
— Escolha… escolha, rapaz! Só não queira o que não pode, do contrário, 2 e 2 voltam a ser 4 independentemente do que queiramos!
— Ora, velho, você está sob o meu jugo, a vida agora não me subjuga! Como ousa restringir e orientar minhas escolhas?!
— Não vai fazer…
— Como? Dúvida?!
— Não vai fazer… Testa empapada. As gotas de suor transcorriam abundantemente, mal conseguia ver adiante. O velho parecia se desdobrar. A princípio, um. Logo dois, três… Sentia-se cercado, perscrutado, invadido. Uma arma, poucas balas… Era mais uma vez fraco.
— Não vai fazer, rapaz! Se o fizer, quem vai afirmar para você que verdadeiramente o fez?! Quem vai concordar com você?! Só reconhecemos o que conhecemos em conjunto, juntos! E “em verdade, em verdade lhe digo: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto”. Não notou o leve afastamento do oráculo que, impassível, resvalou o indicador nos lábios do rapaz para que este não mais se manifestasse. Distanciou-se com cuidado, deu então as costas ao visitante. Súbito, elevou as mãos às alturas e prostrou-se junto ao chão, a testa no ladrilho frio. Aquele outro, o mesmo que só se via inteiro, prontamente se fracionou. Não suportou aquele destoar que mais lhe pareceu um acinte. Trouxe novamente a mão letal junto a si – ato que há muito ensaiava. Mesmo tresvariando, não deixou de cumprir a coisa naquele tempo. Um corpo estendido no chão. Não mais era, porque já havia sido.

Agradeço profundamente aos meus mestres Fiodor Mikhailovitch Dostoievski, William Shakespeare e Blaise Pascal pelos ensinamentos. Mas, principalmente, nada disso viria à tona sem Jesus Cristo.

Alors…

Posted in Sem categoria on 26 de maio de 2005 by Dmítri Cerboncini Fernandes

Hoje fui ao parque do Ibirapuera pela manhã. Lá se concentra a burguesia paulistana branca descendente de europeus. Há cachorros, muitos cachorros. Quase não há negros. Há também polícia, muita polícia. As pessoas parecem estar felizes, correndo, andando ou pedalando. Algumas falam de viagens ao exterior, outrras a respeito de namoros, outras ainda querem reformar sua casa ou apartamento. Quase ninguém percebe ou liga para o fato de que lá há outras pessoas além delas mesmas, mas ainda assim se sentem bem em estar ao lado ou perto de pessoas desconhecidas porém iguais a elas, tão ofuscadas por brilho nenhum. Andam geralmente pelas mesmas vias lotadas, todos juntos, na mesma direção, enquanto outras ficam quase que totalmente vazias. Eu prefiro as vias vazias. Tudo está bem, tudo está bom.
“E o pretinho vendo tudo do lado de fora”…

Sociedade dos cães

Posted in Sem categoria on 25 de maio de 2005 by Dmítri Cerboncini Fernandes

Sinto voltar a ser argumentativo, mas o cacoete de cientista social não me deixa. A propósito, estive pensando a respeito do frenesi observado que determinadas pessoas, dentre as quais eu me incluo, nutrem por animais de estimação. Cachorros são pegos no colo e beijados até não poder mais. Conversa-se com eles como se pudessem nos ouvir, fazendo-se às vezes vozes estranhas, bizarras, meio humorísticas, mais agudas, com mais afeto do que quando se lida com qualquer criança. Noto um certo sofrimento velado nessas manifestações, um “amor” maníaco exacerbadamente exagerado por estes vivíparos, amor este não realizado plenamente, pois carente de reciprocidade. Não venham me dizer que há reciprocidade, pois esta somente pode existir quando há consciência de ambas as partes na relação, ou seja, uma interação, o que não ocorre com estes entes irracionais caninos.
Meu diagnóstico assim passa por uma fundamentação na teoria crítica, a qual crê que o capitalismo tardio está chafurdado em uma tal reificação que impede a relação ou qualquer manifestação verdadeiramente humana. As relações interpessoais passam a ser semelhantes Às relações entre coisas, mercadorias, quantificadas e estratégicas. Neste mundo desumanizado, creio eu ser impossível a busca da alteridade real, pois o que se encontrará será o ser humano objetificado no outro lado da relação. Ou seja, o pouco que resta de humano a nós não encontra sua reciprocidade no outro, apenas em formas de sofrimentos os mais inexpugnáveis, porque estruturais. Sendo assim, ao procurarmos algo de humano, uma pequena manifestação que seja de carinho desinteressado, não encontramos nada a não ser o outro tão carente de subjetividade e de humanidade como nós mesmos, ferindo-nos com a objetificação assim como nós o feriremos com nossa objetificação. O carinho desinteressado assim será passado para estes mamíferos inferiores, impedidos pela falta de razão irracional que é a sua sua própria irracionalidade de interagir reificadamente, estratégicamente conosco. O “carinho” doado a estes animais e que estes “retornam” a nós é dessa maneira algo substancializado pela consciência fraturada humana como doação e recebimento de sentimentos de uma forma menos penosa do que entre humanos. Quantas vezes não ouvimos frases como estas: “prefiro os cachorros, que não são traiçoeiros, gostam de verdade da gente e demonstram isso por que são ingênuos, e etc…”? Ou seja, a falta de humanização do capitalismo tardio nos leva a idolatrar qualquer forma de manifestação desinteressada de afeto em um mundo completamente frio, desumanizado, coisificado e vazio, aonde impera a lei das permutas, da equivalência, da formalização e formalidade vazias. O substituto do homem fica sendo um ser inferior. O refúgio dos sentimentos humanos frutrados e das manifestações de humanidade frustrada são assim canalizados para um ser impossibilitado estabelecer qualquer tipo de alteridade. Enfim, a alteridade nos tempos modernos é mais facilmente conseguida com um ser inferior do que com um semelhante.
A que nível chegou a humanidade!!!

Jovem Werther

Posted in Sem categoria on 23 de maio de 2005 by Dmítri Cerboncini Fernandes

Que gente é essa, criaturas cujas almas são absorvidas pelas formalidades; cujos interesses e esforços, durante anos inteiros, estão exclusivamente voltados em tentar conseguir a cadeira mais próxima da cabeceira da mesa de recepção! Não que lhes falte o que fazer: até pelo contrário, os trabalhos se acumulam, porque as pequenas trocas de farpas, nas lutas por promoções, acabam dificultando a realização de negócios importantes.(…)

J. Wolfgang Goethe – Os sofrimentos do Jovem Werther.

Abel et Caïn – Baudelaire

Posted in Sem categoria on 18 de maio de 2005 by Dmítri Cerboncini Fernandes

Abel et Caïn

Race d’Abel, dors, bois et mange;
Dieu te sourit complaisamment.

Race de Caïn, dans la fange
Rampe et meurs misérablement.

Race d’Abel, ton sacrifice
Flatte le nez du Séraphin!

Race de Caïn, ton supplice
Aura-t-il jamais une fin?

Race d’Abel, vois tes semailles
Et ton bétail venir à bien;

Race de Caïn, tes entrailles
Hurlent le faim comme un vieux chien.

Race d’Abel, chauffe ton ventre
A ton foyer patriarcal;

Race de Caïn, dans ton antre
Tremble de froid, pauvre chacal!

Race d’Abel, aime et pullule!
Ton or fait aussi des petits.

Race de Caïn, coeur qui brûle,
Prends garde à ces grands appétits.

Race d’Abel, tu crois et broutes
Comme les punaises des bois!

Race de Caïn, sur les routes
Traîne ta famille aux abois.

II

Ah! Race d’Abel, ta charogne
Engraissera le sol fumant!

Race de Caïn, ta besogne
N’est pas faite suffisament;

Race d’Abel, voici ta honte:
Le fer est vaincu par l’épieu!

Race de Caïn, au ciel monte,
Et sur la terre jette Dieu!

Baudelaire – Les Fleur du Mal

Dostoievsky – Excertos (3ª parte)

Posted in Sem categoria on 15 de maio de 2005 by Dmítri Cerboncini Fernandes

“Se Deus existe, então eu também sou imortal”.

“O ateísmo completo está no penúltimo degrau da fé mais perfeita (se subirá esse degrau já é outra história), já o indiferente não tem fé nenhuma, a não ser um medo tolo”.

Os Demônios, págs. 641 e 662, Ed. 34, 2004.

Paradoxos Pós-modernos

Posted in Sem categoria on 12 de maio de 2005 by Dmítri Cerboncini Fernandes

Se Deus não existe, tudo é permitido.

Se tudo é permitido, posso reinventar (ou ressucitar) Deus.

Certeza

Posted in Sem categoria on 10 de maio de 2005 by Dmítri Cerboncini Fernandes

O Fim das certezas…
Mas se não existe mais certeza, como se pode ter certeza de que se acabaram as certezas?

Este é o dogma pós-moderno?

Verdades

Posted in Sem categoria on 8 de maio de 2005 by Dmítri Cerboncini Fernandes

“Conhecerás a verdade, e a verdade vos libertará”
Jesus.
“Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás o mundo”
Sócrates.

-O que é a verdade?
(Pôncio Pilatos).
– *** (Silêncio total)
(Jesus)

Resposta à Maíra e proposta à Marie

Posted in Sem categoria on 7 de maio de 2005 by Dmítri Cerboncini Fernandes

Vivemos como indivíduos enquanto tentamos compreender para/e transformar a realidade. Esta pode ser objetiva, representada por instituições, símbolos, modos gerais de ser e de estar no mundo do outro, ou subjetiva, percebida enquanto um estar no mundo do próprio sujeito, estar esse que não se realiza plenamente por impossibilidades estruturais, ou seja, reverberações objetivas das instituições objetivadas no estar, e o decorrente mal-estar proveniente da situação falsa inconsciente imposta pelas instituições.
No entanto, o ser no mundo não pode se furtar a ser determinado exclusivamente pelas instituições objetivas. Há porém uma possibilidade de libertação, ainda que remota, que perpassa todas as esferas que impingem um modo de agir e de ser. Isso se passa pela busca subjetiva (analítica) das objetivações internalizadas que são objetivadas nos atos no mundo. Ou seja, importa-se perceber e reconhecer as injunções sociais e as maneiras como estas se manifestam em cada atitude objetivada pelo sujeito no mundo. Há de se perguntar, porém: depois de descobertas as amarras e injunções, o que se deve fazer, como se deve agir ou para quê? Já que o mundo é falso, e que nasci e viverei neste mundo, porque não me entregar ou me negar às condições impostas externamente pelo próprio, que hoje já fazem parte constitutiva do meu ser? Com que intuito se deve imprimir uma busca incessante, dolorosa e inóqua atrás de mim, de um “eu” verdadeiro que nem eu próprio tenho certeza de que exista? Para onde essa onda de descobertas e novos anseios, de medos decantados e preconceitos mapeados poderão levar? Não seria melhor “afogar-se no gim e na devassidão”, como Dostoiévsky disse? Creio que essa busca teria um valor por si e para o outro. (Continua…)
Dmítri Karamázov – 7/5/2005