A Morte

Certas pessoas passam a vida buscando a glória na morte, ou melhor, esperando serem louvadas, agraciadas, choradas no dia de seus enterros. Não se dão conta de que o melhor ato da vida delas foi morrer. Deixar de viver é o ápice de suas vidas, ou do que elas espram que seja. É uma realidade bem dialética, não?
Acho que esse sentimento se passa com a maioria dos suicidas, que, incapacitados de resolverem seus problemas em meio ao turbilhão de novas sensações de frustração, pensam que com o ato derradeiro poderão arregimentar qualquer lucro simbólico aos olhos dos outros que eles não conseguiriam (ou nem tentariam) em vida (coisas como : coitado, como ele faz falta, deveríamos ter dado mais atenção, ou algo que cale mais fundo e silencioso como uma comiseração culposa de todos aqueles que o rodeavam e que passam a se sentir culpados, elevando supostamente por essa negativa a memória do que se foi).
Penso que tudo isso é uma bobagem. Quem deixa o tempo passar para tentar ser amado quando morto, não o será nem em vida nem em morte. A lamentação gratuita, sentida e verdadeira somente segue aqueles que tiveram uma vida plena, dedicada ao próximo (seja ele quem for), às causas nobres e desinteressadas. Somente aquele que soube se doar em vida será lembrado de uma boa maneira em morte, e o paradoxo principal é que ele não deve fazer boas ações pensando nesse lucro posterior. “Amar ao próximo como a si mesmo” é a base para qualquer tipo de vida que se deseja na Terra. A prática dessa máxima leva-se à perfeição, traz o fim do capital, o começo de uma nova história.