Arquivo para janeiro, 2006

O Dever

Posted in Sem categoria on 27 de janeiro de 2006 by Dmítri Cerboncini Fernandes
O dever é a obrigação moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e, em seguida, para com os outros. O dever é a lei da vida. Com ele deparamos nas mais ínfimas particularidades, como nos atos mais elevados. Quero aqui falar apenas do dever moral e não do dever que as profissões impõem.
Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de cumprir-se, por se achar em antagonismo com as atrações do interesse e do coração. Não têm testemunhas as suas vitórias e não estão sujeitas à repressão suas derrotas. O dever íntimo do homem fica entregue ao seu livre-arbítrio. O aguilhão da consciência, guardião da probidade interior, o adverte e sustenta; mas, muitas vezes, mostra-se impotente diante dos sofismas da paixão. Fielmente observado, o dever do coração eleva o homem; como determiná-lo, porém, com exatidão? Onde começa ele? onde termina? O dever principia, para cada um de vós, exatamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranqüilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha com relação a vós.
Deus criou todos os homens iguais para a dor. Pequenos ou grandes, ignorantes ou instruídos, sofrem todos pelas mesmas causas, a fim de que cada um julgue em sã consciência o mal que pode fazer. Com relação ao bem, infinitamente vário nas suas expressões, não é o mesmo o critério. A igualdade em face da dor é uma sublime providência de Deus, que quer que todos os seus filhos, instruídos pela experiência comum, não pratiquem o mal, alegando ignorância de seus efeitos.
O dever é o resumo prático de todas as especulações morais; é uma bravura da alma que enfrenta as angústias da luta; é austero e brando; pronto a dobrar-se às mais diversas complicações, conserva-se inflexível diante das suas tentações. O homem que cumpre o seudever ama a Deus mais do que as criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo. E a um tempo juiz e escravo em causa própria.
O dever é o mais belo laurel da razão; descende desta como de sua mãe o filho. O homem tem de amar o dever, não porque preserve de males a vida, males aos quais a Humanidade não pode subtrair-se, mas porque confere à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento.
O dever cresce e irradia sob mais elevada forma, em cada um dos estágios superiores da Humanidade. Jamais cessa a obrigação moral da criatura para com Deus. Tem esta de refletir as virtudes do Eterno, que não aceita esboços imperfeitos, porque quer que a beleza da sua obra resplandeça a seus próprios olhos. – Lázaro. (Paris, 1863.)

Estruturas Atemporais

Posted in Sem categoria on 24 de janeiro de 2006 by Dmítri Cerboncini Fernandes

Ontem assisti ao clássico nazista de Leni Riehfensthal, “O Triunfo da Vontade”, e cheguei a três conclusões bem simples, porém verdadeiras:

1 – O neoliberal de hoje é o nazista de ontem.
Todos os estúpidos que defendem e defenderam a ordem estabelecida como a única naturalmente possível são estruturalmente, ao longo de toda história, os sacerdotes da barbárie. Aqui coloco os fariseus, os aristocratas, a igreja católica, etc.
Porém, há elementos ainda mais maléficos: aqueles que, travestidos de libertadores da humanidade ou de parcela da, engendram ainda mais terror à ordem bárbara existente em seu período. Estes são os nazistas e os socialistas (pelo menos o foram até hoje, quando tentam anteceder uma revolução social a uma moral).

2 – Todo político, por mais desinteressado que seja, tem um Hitler dentro de si. Quer o apoio integral, a honra máxima, uma nação gritando histericamente o seu nome, a perpetuidade no poder e na história. Estes são os móveis que os movem, ontem e hoje.

3 – Todo ser ofuscado procura por um Führer na terra e um Deus similar ao Führer no céu.

Posted in Sem categoria on 13 de janeiro de 2006 by Dmítri Cerboncini Fernandes

O sentido do sentido.

Posted in Sem categoria on 12 de janeiro de 2006 by Dmítri Cerboncini Fernandes

É necessário um sentido para se continuar vivendo? Se sim, a necessidade se refere a um grande, eterno, perene, ou a pequenos sentidos diários, construções auto-impostas a nós mesmos? O “Grande” também seria uma construção? Tudo é uma construção? Nada existe em si? Como saber?
Creio que todas as ações, por mais ordinárias que sejam, estão interligadas em um todo que expressa o que uma pessoa é ou deixa de ser. Ninguém age de forma inesperada ou incontrolável. O incontrolável faz parte de todo um repertório possível de ação que um indivíduo é capaz de fazer. Aí mora a essência do que somos. Temos o germe do bem e do mal que podemos vir a fazer. Basta uma escolha, dentro de nossos limites, para conhecermos quem na realidade somos (com um mínimo de reflexividade, é claro…).
Podemos refrescar a mente e enganarmos com a falácia de que “tudo é uma construção”, ou de que “existe uma coisa em si”. Porém, é possível sim vislumbrarmos os valores postos em jogo na sociedade, as determinações que sofremos de fato. Aí pode ser capaz de se dar a liberdade, mais na possibilidade de ação realmente autônoma do que na mera execução de imperativos de grupos aos quais faz-se parte. Beber? Foder? Estudar? Sim, nada é proibido. Porém, é lícito enxergar o que de fato é uma necessidade de seu ser, de seu estado atual e o que são meras determinações heterônomas. Podendo-se escolher de fato, enxergando a sociedade que há em si e o si que poderá haver na sociedade. Assim é que se dá a prática da liberdade.