Arquivo para junho, 2006

Hiper-realidades

Posted in Sem categoria on 30 de junho de 2006 by Dmítri Cerboncini Fernandes

Ferrenhos-ortodoxos-marxistas-exegetas-frankfurtianos-institucionalistas–retóricos-consumistas-comunistas-psicanalistas-cantores-discutidores-profissionais-dominadores-atores-mega-super-idealistas-teoristas-calculistas-desenxabidos-oferecidos-bem-vistos-sempre-nisso-ganhar-disputar-ganhar-disputar-ganhar-disputar-reviravolta-dialética-mudar-o-mundo-paraíso.

A Tradição.

Posted in Sem categoria on 17 de junho de 2006 by Dmítri Cerboncini Fernandes

“E quanto mais remo mais rezo
Pra nunca mais se acabar
Essa viagem que faz
O mar em torno do mar
Meu velho um dia falou
Com seu jeito de avisar:
– Olha, o mar não tem cabelos
Que a gente possa agarrar.”

Interpreto este lindo poema da canção “Timoneiro”, de Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho, como uma das alusões mais sutis e verdadeiras ao fulcro do que move todo o universo do samba: o retorno perene à tradição.
Quanto mais profundamente se está arraigado a este domínio artístico, mais se quer navegar, desejando que jamais se extermine o encanto (quase vem à tona a artificialidade deste na letra, senão não haveria razão de ser do desejar tanto para que não acabe, chegando até à condição mais rogativa, a da reza).
A viagem se dá no mar em torno do mar, sem direção específica, antevista, sem uma finalidade expressa, o prazer está no velejar pelo velejar por esse mundo que nunca acaba, que não se vê nem o começo, nem o meio, nem o fim. Ele se auto-justifica, justifica a própria existência aos olhos do navegante, que não quer que se revele que é o próprio “remar” que constrói o mar, e que sem esse ato, o infindável oceano não existiria.
O samba aparece no poema como um ente à parte, criação da natureza, a-histórico, um objeto misterioso, forte, eterno, cheio de vais-e-vens.
Chega o mais velho, a voz da autoridade, do bem senso, da razão, daquele que já tentou desvendar o mistério durante toda a sua vida, o PAI, e dá a cartada final: “Não tentes descobrir o indescobrivel, não ameaces a tua própria reprodução, a tua illusio, o que te dá sentido na vida, esse sem sentido tão cheio de sentido, porque nos preenche e nos dá sentido. Deixa intocados os móveis que fazem o mundo girar, não descubras o que faz o mar o mar. Apenas aproveite, deleite-se na santa ignorância que nos move, nos une, e assim, esta esfera intocada pela razão assim permanecerá por muito e muito tempo; por mais que tentes desvendá-la, seu destino está traçado: és um timoneiro, um remador, estás mais entranhado nesse mar que é impossível descobri-lo. E ele não te dará uma porta de entrada para o descobrimento, para o desevnamento: ele é fechado em si, não tem cabelos aonde se possa agarrá-lo, dominá-lo, abri-lo. Contenta-te, enfim, em ser o timoneiro…”

Semelhanças com os mitos gregos serão meras coincidências?

Irmandade

Posted in Sem categoria on 3 de junho de 2006 by Dmítri Cerboncini Fernandes
Hegel, em sua juventude, idealizou uma das mais belas soluções da história da filosofia para os problemas da obrigatoriedade da auto-regulamentação do indivíduo inserido na modernidade . Segundo ele, deveríamos irmanarmo-nos através de nossas negatividades; ou seja, deveríamos nos reconhecer no outro por aquilo que possuímos de fraco, pelas carências apresentadas, compartilhando as dores inexauríveis de nosso tempo que afligem a todos. Na fraqueza seríamos unidos e assim passaríamos a ser fortes, visualizando em nós mesmos as aflições, anseios e desesperanças, compartilhando abertamente o nosso lado negativo. Aceitaríamos dessa forma a nós mesmos de uma maneira melhor e ao outro, abriríamos o coração a todos e a todo momento.
Lindo devaneio do filósofo, que realizaria a completude do Espírito na Terra.

Ser sociólogo é…

Posted in Sem categoria on 1 de junho de 2006 by Dmítri Cerboncini Fernandes

Atentar para as mínimas manifestações dos outros e de si mesmo,

Conhecer o mundo em que vive, reconhecendo-se inserido nele,

Pensar as transformações de maneira a incluir-se nelas,

Desconfiar de seus próprios pensamentos, de suas próprias angústias, de seus próprios anseios, verificando o que é seu de fato e não,

Caminhar sem receios para uma vida de privações materiais e simbólicas, com a simples compensação de melhor compreender o que se passa com esse mundo louco e consigo próprio,

Enxergar as determinações sociais que estão em sua mente, trabalhá-las no sentido de superá-las no dia-a-dia,

Não ser um agente da reprodução do sistema de dominação do Capital, tampouco simplesmente condenar implacavelmente aqueles que estão entredados até o pescoço nele,

Caminhar no sentido de instaurar o que nunca antes existiu sem ter medo do novo, de tentar, de caminhar e de depois voltar atrás e começar tudo de novo.

E muitas outras coisas…

“Conheças a sociedade, e conhecerás a si mesmo e ao mundo”.