Arquivo para abril, 2008

Brasil-França-Portugal

Posted in Sem categoria on 21 de abril de 2008 by Dmítri Cerboncini Fernandes

Pois é. Demorou mas até que enfim, no meio da viagem, eu me dei conta de que estou em Paris, na França, e tantos loucos e loucuras situados no Brasil foram aqui, momentaneamente pelo menos, esquecidos.

Me dei conta da minha situação quando visitei uma cidade próxima a Paris, que se chama Chartres.

De fato, percebi que estava longe do Brasil. Tudo exteriormente organizado, lindo. As casas e apartamentos sem uma divisória concreta entre o público e o privado possibilitavam que se andasse entre elas em jardins e caminhos floridos e arborizados que iam até o leito de um riozinho, onde bancos e flores na margem enfeitavam-se com patos e cisnes nadando. A parte medieval completamente preservada entrelaçava-se com praças gigantes, todas muito bem cuidadas, locais onde praticamente toda a cidade saía a passear na tarde de sábado.

Óbvio que por baixo de toda essa harmonia existem as misérias humanas, e que se sente que “algo não está completamente bem no reino da Dinamarca”. Mas o reino da Dinamarca, queiram ou não, existe, e se sentirá esse mal-estar de uma maneira mais amenizada e bem depois de se dar de frente com a Marginal Tietê na volta ao Brasil…

Pude perceber também que essa de cima, a de Chartres, é uma realidade que nunca teremos no Brasil. E isso não devido ao imperialismo ou a qualquer outro motivo externo, mas sim por causa de nosso caráter, pela nossa (má)formação, pela mesquinhez típica e doentia que caracteriza o “espertalhão”que quer levar vantagem em tudo, pelo personalismo exarcebado, um narcisismo doentio que deseja por meio do não-trabalho o reconhecimento imediato, pela falta de verdadeiros indivíduos que se auto-completem e que não engolem tudo o que a sociedade ou a comunidade os dita.

Pela falta, enfim, de indivíduos no sentido forte do termo. Somos uma gosma mista, sem forma, que temos medo de nós mesmos quando estamos sozinhos. Os nossos pais portugueses são iguaizinhos, não podem ficar isolados e têm medos terríveis do julgamento da sociedade opressora e autoritária, aliás, como a nossa.

Não que a França seja um paraíso. Existem os mesmo problemas de caráter humano, de maneira essencial. Acontece que na forma eles se manifestam de outro jeito, possibilitando a existência ao menos exterior de locais belos, organizados, enfim, civilizados.