Olhai para as aves do céu
que não semeiam nem segam
nem fazem provimentos nos celeiros;
e, contudo, vosso Pai celestial as sustenta.
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Comprei um desses receptáculos de alimento para beija-flor.
Todos os dias, enquanto trabalho, a varanda se enche não só de beija-flores, mas também de pássaros menores e maiores sedentos pela seiva que eu sempre lhes disponibilizo.
A Celia, assistindo ao espetáculo diário que os pássaros do concreto nos proporcionam teve uma inspirada interpretação da famosa parábola de Jesus, que tanto incomoda os protestantes e demais próceres do trabalho pelo trabalho.
Foi o seguinte:
O dia em que a humanidade for humanidade, todos poderemos ter a despreocupação dos pássaros para conosco, mas não para com os outros.
O forte egoísmo reinante que nos inquieta pelo pão-nosso de cada dia daria lugar à doce e constante vigilância para que o pão-deles de cada dia não falte.
Deles, importa dizer, seja de quem for. O outro virá antes de nós.
Nessa Utopia, haverá constantemente alguém pronto a abastecer o receptáculo de seiva a todos, fazendo o papel de Pai Celestial. Na verdade, todos quererão cumprir este divino papel.