O Grego Sócristo

Posted in Sem categoria on 25 de dezembro de 2009 by Dmítri Cerboncini Fernandes

“Só quem entende a beleza do perdão pode julgar seus semelhantes”

Sócrates.

Ele só queria ser artista…

Posted in Sem categoria with tags , , , , on 5 de outubro de 2009 by Dmítri Cerboncini Fernandes

hitler-painting– Pai, já escolhi o que quero ser.

-Pois eu já sei o que você deve ser. Seguirá o meu caminho. Um belo e estável emprego propiciado pelo Estado Austríaco te aguarda.

– Não, pai… eu queria dizer ao senhor que tenho outros planos… Há algo que me inspira, que me arrebata completamente, sem o qual não poderia viver. Quero ser artista, pai!  Nada há de mais sublime, de mais necessário em minha vida! Eu respiro e transpiro arte sem cessar, acontece mesmo sem eu querer, como uma coisa que não posso resistir! E prometo ao senhor, meu bom pai, que me dedicarei ao máximo, que, de minha parte, farei tudo par..

O pai retorce a expressão facial, franze a testa, pressiona o maxilar incessantemente e, preparando a garganta com o olhar fulminante, o interrompe num misto de grito e cuspe:

– Nunca! Nenhum filho meu será artista! Só por cima de meu cadáver!

O susto do filho é menor do que sua resignação, pois já esperava negativa parecida. Seu dilaceramento fervilhante o cega, dando expressão a mais lacônica, resoluta e exata resposta:

– Pois se assim tiver de  ser, assim será.

O pai lhe esbofeteia a cara. O menino de treze anos cai ao chão. A mãe, logo em seguida, o soergue. Aconchega-lhe junto ao ventre, de onde poderia não ter saído. A cabeça latejante do tapa paterno recebe as carícias das mãos da mãe.

O menino cresceu. Quis a Arte, a arte não o quis.

O Estado, por fim, o acolhe de braços abertos. Lá, o ex-menino se sentiria novamente enlaçado por sua mãe.

O pai ganha a queda de braço.

E o mundo conhece Adolfo, um alemão.

Olimpíadas

Posted in Sem categoria on 2 de outubro de 2009 by Dmítri Cerboncini Fernandes

Não uso muito este espaço para comentar fatos diversos. Nós, os sociólogos, perdemos a primazia do enquadramento simbólico do real logo quando de sua partida para a existência há muito tempo. Os jornalistas e outros opiniólogos, como os sumos sacerdotes da economia, agarraram-se a esta função e a levam a sério.

Vou abrir uma exceção, no entanto, ao proferir algumas palavras sobre os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro.

Há uma contenda aberta sobre a realização de um evento de tal porte em uma cidade sulamericana. Segundo pesquisas de opinião – como se elas dissessem alguma coisa… -, os próprios “brasileiros” se dividem sobre isso.

O blá-blá-blá de ambos os lados da contenda resume-se assim: de um lado, há os entusiastas globais, os festeiros que nada mais pensam e sabem a não ser o que a grande imprensa encampa. De outro, há os pseudo-esclarecidos, aqueles que bradam aos quatro ventos que as Olimpíadas trarão um grande malefício ao país, tendo em vista que a corrupção rolará solta, que o país precisa primeiro resolver seus problemas básicos etc. etc. etc…

As mesmas opções ideológicas estão claramente postas de uma forma bem expressiva naquela propaganda das havaianas, a do pagode: de um lado, os patuscões sambistas em sua roda-fake. Cerveja AmBev custando o que custar, até o dia amanhecer. “O brasileiro é alegre”.

De outro, uma menina de óculos de aros grossos com livros a tiracolo, certamente apoiadora de alguma ONG e com tendências meio esquerdistas. Ela entra no bar chamando os sambistas à razão. Não caberia, para ela, demonstrar felicidade na atual ordem mundial, tendo em vista que presenciamos uma “crise”. “Um chato só não faz verão. Nem inverno, muito menos outono”.

A alegria, por fim, abocanha a crítica da crítica de botequim. A tristeza anunciada incorpora-se à letra de uma canção, servindo de mote para o pagode continuar. Movimento prenunciador.

A enformação das tristes mazelas passa pelas nossas “beleza e alegria”. Processo que possibilitou a volta dos “olhos do mundo” a nós. Lula é rei.

A festa está armada. A Rede Globo, enfim, terá o seu merecido reconhecimento. Organizará aquilo que promete ser o maior evento deste país desde o século XX.

A “alegria” do brasileiro subsumirá a “tristeza”. Pedindo a ela, em forma de farra, “por favor, vá embora” . Os críticos de botequim, como a menina da propaganda, não serão escassos. Se calarão, por fim, e cairão no samba, embora com bufos e resignação. Fingem, também adoram tudo isso.

E Serra cai no samba até o dia amanhecer no morro de Mangueira. Traz em seu auxílio Príncipe Charles, quem o ensinará a arte da dança africana de Cartola e Candeia.

O “as Olimpíadas podem tranformar um país” juntar-se-á com o repisado “agora vai”. Outras quimeras vão ser reeditadas mais uma vez. As lamúrias de que “este país é uma vergonha”, o “onde já se viu tanta roubalheira”também habitarão os discursos de muitos. E o melhor disso tudo é que é perfeitamente possível se intercalar essas (o)posições ao sabor do vento, sem problema nenhum.

Bem-vindos à terra do samba, do futebol e da mulata, Jogos Olímpicos! País em que se plantando, tudo dá. País do futuro. Coração do mundo. Mundo que, enfim, mostrou a sua cara. E ela não é nem um pouco diferente da nossa, por mais que procurem nos convencer disso.

Ressentimento de "Artista"

Posted in Sem categoria on 1 de outubro de 2009 by Dmítri Cerboncini Fernandes

“O ressentimento é uma revolta submissa.
A decepção, pela ambição que aí se revela, constitui uma confissão de reconhecimento.
O conservantismo jamais se enganou com isso: sabe ver aí a melhor homenagem prestada à ordem social, a do despeito e da ambição frustrada;
assim como sabe descobrir a verdade de mais de uma revolta juvenil na trajetória que conduz da boemia revoltada da adolescência ao conservantismo desencantado ou ao fanatismo reacionário da idade madura”.

Equações milimétricas e formais em sociedade.

Posted in Sem categoria on 2 de setembro de 2009 by Dmítri Cerboncini Fernandes

Ele possui um pênis latejante. Ela, uma vulva voluptuosa. Ambos os corpos são perfeitos.

Acham-se na multidão. Resulta do intercâmbio o doce prazer do gozo.
Ele possui 85 mil reais na conta bancária. A Rolex Paris, um relógio. Ambos os corpos são perfeitos.
Acham-se na multidão. Resulta do intercâmbio o doce prazer do gozo.
Ela possui 8 mil reais. A Louis Vuitton, uma bolsa de couro. Ambos os corpos são perfeitos.
Acham-se na multidão. Resulta do intercâmbio o doce prazer do gozo.
Ele possui cinqüenta reais. Ele, um revólver de calibre 38. Ambos os corpos são perfeitos.
Acham-se na multidão. Resulta do intercâmbio a doce ansiedade do gozo.
Ele possui um revólver de calibre 38. Ele, um relógio Rolex. Ambos os corpos são perfeitos.
Acham-se na multidão. Resultam do intercâmbio o doce e destendido prazer do gozo e o amargo sabor do logro.
Ele possui um revólver de calibre 38. Ela, uma bolsa Louis Vuitton. Ambos os corpos são perfeitos.
Acham-se na multidão. Resultam do intercâmbio o doce e destendido prazer do gozo e o amargo sabor do logro.
Ele possui um revólver de calibre 38. Ela, uma vulva retraída. Ambos os corpos são perfeitos.
Acham-se na multidão. Resultam do intercâmbio o doce prazer do gozo e o amargo sabor do logro.
Ele possui um revólver de calibre 38. Ele, um revólver de calibre 38. Ambos os corpos são perfeitos.
Acham-se na multidão. Resultam do intercâmbio o doce prazer do gozo e o inefável sabor do fim.

Por que, Fernando Pessoa? Porque.

Posted in Sem categoria on 1 de setembro de 2009 by Dmítri Cerboncini Fernandes

Nós nunca nos realizamos.

Somos dois abismos – um poço fitando o céu.

Toda afirmação peremptória porta consigo determinada insegurança ou desconfiança de si própria. Com o desassossego de Pessoa não poderia ser diferente.
Se nossa condição já está inexoravelmente dada, por que ainda insistimos em fitar o céu? Em que consiste essa esperança vaga, esse acalentar de anseios “irrealizáveis” se a afirmação nós nunca nos realizamos vem antes de tudo? Não podemos nos contentar com a pequenez de nossas perspectivas “reais” e “verdadeiras”?
Nietzsche diria que o problema é a fantasia da dubiedade. Não deveríamos nos imaginar como poços fitando o céu. Nada de idealismos ou de divisões “artificiais”. Somos o que somos e isso basta. A super-condição é possível sim àquele que prescinde das platônicas verdades fáceis e toma a coragem de realizar-se realmente no mundo real.
O platonismo do não-atingir de Pessoa está para o Super-Homem de Niezsche assim como a democracia republicana burguesa está para o nazismo. Uma enxerga bem ao longe os ideais de Liberté, Égalité, Fraternité. Pensa basear-se neles e que a sua realização é possível. Homens astutos como Pessoa vislumbram que ela nunca se realiza. O outro rebaixa o ideal ao existente. Bastam algumas transformações para que nós, os mais fortes, nos tornemos Deuses de nós mesmos.
E ambas as línguas possuem a divisão entre Ser e Estar… E se fosse: Nós nos nunca nos realizamos? Estamos como dois abismos – um poço fitando o céu. Certamente perderia sua altissonância poética. Ganharia, talvez, em uma humildade filosófica. A dúvida, eis a questão. E a chave.
É, Fernando Pessoa, deixemos o alemão de lado. Nós, Portugueses e Brasileiros, nunca nos realizamos mesmo. Eles que se realizem à maneira deles… Mas será que nunca nos realizamos mesmo? E volto à questão: por que insistimos em fitar o céu? Ou é o céu que insiste em nos fitar sem sucesso algum, na maior parte das vezes?
Disseram uma vez que montanhas podem ser removidas. Adão e Eva, Gaia e Urano, o poço e o céu – se for realmente verdade, todos podem ficar felizes neste momento.

Stefan George versos Max Weber versus Stefan George versos Max Weber versus

Posted in Sem categoria on 30 de agosto de 2009 by Dmítri Cerboncini Fernandes

O poeta misógino ousou desafiar o marido amigo de Marianne Weber, amante platônico de Mina Tobler e consumado de Elsa Von Richtoffen em seu tempo…

Ciência versus beleza.
Eterno etéreo versus Estéril sério.
O Artífice do artesanal versus O Pontífice do serial.
Método versus Inspiração.
Etc. versus Etc.
Parmênides, o cientista por excelência e por tradição, na rinha figura ao lado do inefável, do inexorável.
Heráclito, o filósofo por competência e por traição, do movimento faz surgir a luz para não mais se apagar. Eterno oscilar.
E muita água vai rolar…
Tempo extemporâneo versus O tempo temporal.
Expressão do todo versus Apreensão de tudo.
O eterno retorno versus o retorno ao Eterno.
Dante versus Galileu.
Versos versus Versão.

Illusio versus Illusio.

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São Paulo, meu amor…

Posted in Sem categoria on 10 de julho de 2009 by Dmítri Cerboncini Fernandes

Rebanhos gordos, rebanhos magros. Bois de linha, de corte, de morte; bois sem raça, sem graça, sem pasto, com sinos pendurados ao pesocoço. Tais as diferenças existentes entre os sobreviventes que habitam a grande fazenda chamada São Paulo.

Há um tal de Centro Expandido na nossa fazenda. Aí ficam a Casa Grande e todas as demais benfeitorias. Não que tudo aí seja arrumadinho, não. A fazenda é meio feia até mesmo na área em que tomam mais conta. Os bois que vivem aí, ah, esses sim são bem mais vistosos e bonitos do que os da outra região. E não saem daí por nada.
Há um charco ao redor desse centro chamado Zona Periférica. Os bois que vivem em meio ao centro expandido desprezam vividamente o pasto existente nessa área, muito pobre, feio e sem gosto. Quer dizer, mais pobre, feio e sem gosto do que o do Centro Expandido. Já os bois que habitam a Zona Periférica têm que vir para o Centro Expandido todos os dias, pois o pasto de suas próprias regiões é muito árido e não dá pra todos. Dizem ainda que a maioria dos bois da Zona Periférica vêm de longe, pertencem a uma raça maldita localizada quase acima da linha do Equador. São bois nativos daqui mesmo. Já os bois do Centro Expandido, em sua maioria, são de uma raça eugenicamente melhor: vieram da Europa. Mas não se pode falar muito nisso na fazenda. Os donos não gostam que comparem desse modo os bois, pois, segundo eles, todos são iguais.
Muitas vezes há conflitos entre as duas raças de bois. Quando os bois feios e magros da Zona Periférica invadem sem o consentimento dos donos o Centro Expandido, eles podem sofrer severas punições. Podem até ser sacrificados ou presos em estaleiros especiais, sujos e muito feios. Isto para eles aprenderem a não se meter onde não são chamados e bem-vindos. Afinal, a fazenda tem que manter a ordem.
Dizem que a direção da fazenda não dá a mínima para a Zona Periférica porque eles lá não são bois, são burros. E burros se contentariam com menos comida e com pastos piores do que os bois, já que eles são bem mais mansos e aguentariam situações adversas sem reclamações. Isso parece ser mentira, mas os donos da fazenda dizem às escondidas… Eu mesmo, um boi bem gordo, já ouvi muitas vezes essa história.
Outras pessoas mais boazinhas dizem que se os bois do Centro Expandido não fossem tão gordos e comilões, teria pasto do bom e do melhor para todos, sem precisar existir violentas contendas entre todos os bois. Que, diga-se de passagem, são estranhamente bem violentos uns contra os outros. Quanto à melhor divisão, os donos da fazenda acham que não é necessária. Eles acham bom existir uma raça gorducha, bem alimentada, que lhes fornecerá carne da boa e bem amanteigada. Já a outra só deve servir pra carregar o peso de sua própria existência e da existência dos demais mesmo… Serviços pesados como os moinhos, os carros-de-bois, o arado esperam os habitantes da Zona Periférica.
Os bois se proliferam mais na Zona Periférica. Todos têm medo de que eles invadam com sua fome e seu jeito estranho o Centro Expandido, mas não é bom falar nisso. Afinal, são bois, não têm consciência de nada. Quando for necessário, que acabem com muitos deles. E que sejam os da Zona Periférica. Ninguém nem vai notar.

Limite

Posted in Sem categoria on 4 de julho de 2009 by Dmítri Cerboncini Fernandes

Angústia: desejo desprovido de objeto.

A sociologia passou de um momento a outro a me angustiar. Não me excita mais, ao menos momentaneamente. Considero-a neste instante limitada e limitante, espécie de camisa de força podadora da imersão do raciocínio. Como, aliás, toda ciência passa a ser depois de determinado limite. Qual seria este? Isto é objeto pra outro tópico…

Preciso de ar. De luz.

Me vejo muitas vezes como o jacaré: mergulho e passo horas dentro d’água até apreender o que tenho de aprender. No entanto, tenho pulmões, e não guelras ou brânquias. Tenho de subir pelo menos um instante para dar uma respirada. Volto lá para baixo, para o lodo, para o meu lar, um pouco mais aliviado…

Terminemos o que temos para terminar e partamos pra outra… Não seria capaz de passar mais trinta anos de minha vida fazendo a mesma coisa, a mesma sociologia do mesmo jeito e com os mesmos objetos e objetivos: traçar os elos significativos entre trajetórias e produções.
Espero, pelo menos, dar mais trabalho a um neófito na sociologia, como eu, caso ele tente me tomar como objeto.

Despistar o fingidor que finge sentir a dor que deveras sente na sociologia. A mesma dor do mundo, que é única.

Caligulinos.

Posted in Sem categoria on 19 de junho de 2009 by Dmítri Cerboncini Fernandes

Há vida.

Quant’a vida.
Viv’avida.
À toa. (?)
Pensar o impensável.
Penar ou empenar – preguiçosamente.
Cansar de alcançar.
O instante perene.
Finda o lume.
Calça-se o fluir.
Para onde navegar.
Se não tem para onde ir?
Go. Vou. De cara pro gol.
Meta: tema-a.
Formalismo informado.
Formol do futuro.
Ein Gespenst geht um in Europa.
O espectro do nadismo desnudo sodomita.
Até quando hei de suportar?
Suporte. Esta é a lei e os profetas.