Carta de amor a Gregório Duvivier
Posted in Sem categoria on 12 de setembro de 2016 by Dmítri Cerboncini FernandesDialética do Absurdo
Posted in Sem categoria on 3 de março de 2016 by Dmítri Cerboncini FernandesSim, absurdo. Esta é palavra exata: absurdo. Ela define justamente tudo aquilo que foge ao “normal”, ao “esperado”, ao “dado”, e desse modo, ao “estático”, ao “sempre mesmo”, ao “natural”.
Absurda foi a conversão de Paulo na estrada para Damasco.
O perdão de fato é o suprassumo do absurdo.
O absurdo é o estranho mais próximo a nós.
Amar amando a si
Posted in Sem categoria on 16 de novembro de 2011 by Dmítri Cerboncini Fernandes[…] A visão sociológica desencantada, desmistificada, é imediatamente compreendida pelos artistas de vanguarda; eles também lutam contra o farisaísmo estético, essa espécie de adesão narcisista que não consiste em amar a arte, mas sim em amar-se amando a arte.
Pierre Bourdieu, Sobre o Relativismo Cultural.
Futuro Antigo Testamento
Posted in Sem categoria on 5 de janeiro de 2011 by Dmítri Cerboncini FernandesY entonces fue que dijimos:
Señor, enséñanos
a levantar ciudades
que sean iguales a los árboles
que llegan a estar maduros
antes de quedarse secos
(Génesis, versículo primero,
capítulo 1972, del futuro testamento).
Ciudades, fundadas para odiar.
Ciudades, tan altas, ¿para qué?
Ciudades, cadáveres de pie.
Ciudades, al polvo volverán.
Si aquí la estrella no se ve jamás,
de aquí la tierra, el ser y el sol se irán,
y reinará la soledad total,
que escrita fue la destrucción final.
Ciudades, fundadas para odiar.
Ciudades, tan altas, ¿para qué?
Ciudades, cadáveres de pie.
Ciudades, al polvo volverán.
Qué lindo será reconstruir.
Querida, te beso hasta engendrar
un hijo con vuelo de albañil en paz.
Qué lindo, te nace una ciudad,
qué calles te sangran por los pies,
qué torre será tu corazón con fe.
Y en cada charco habrá un pequeño mar
y en cada fragua un inventor de sol
y en cada puerta la inscripción astral
y en cada triste un aprendiz de Dios.
Ciudades, ciudades que serán.
Ciudades, sentí su anunciación.
Ciudades, las vengo a construir.
Ciudades, del polvo volverán.
(Astor Piazzolla e Horacio Ferrer)
***
No princípio eram aldeias;
Guerras, saques, mortes, estupros e escravização.
Poder.
Vêm as fortificações.
Anos se passam.
Guerras, saques, mortes, estupros e escravização.
Poder.
Vêm as cidades.
Señor, enséñanos
a levantar ciudades
que sean iguales a los árboles
que llegan a estar maduros
antes de quedarse secos
Estátuas eqüestres, ensinem-nos
a fazer de todas as cidades
cópias fiéis das nossas
que eterna sensação de conquista
as funde embalsamadas em sangue.
Ciudades, fundadas para odiar.
Ciudades, tan altas, ¿para qué?
Ciudades, cadáveres de pie.
Ciudades, al polvo volverán.
Cidades, fundadas pelo ódio.
Cidades, seriam baixas por quê?
Cidades, cada vez mais em pé.
Cidades, o pó é sua feição.
Si aquí la estrella no se ve jamás,
de aquí la tierra, el ser y el sol se irán,
y reinará la soledad total,
que escrita fue la destrucción final.
Estrela, terra, ser?
(Sol)idão.
A destruição final ainda será?
Piazzola não conheceu o Minhocão…
Qué lindo será reconstruir.
Querida, te beso hasta engendrar
un hijo con vuelo de albañil en paz.
Qué lindo, te nace una ciudad,
qué calles te sangran por los pies,
qué torre será tu corazón con fe.
Y en cada charco habrá un pequeño mar
y en cada fragua un inventor de sol
y en cada puerta la inscripción astral
y en cada triste un aprendiz de Dios.
Ciudades, ciudades que serán.
Ciudades, sentí su anunciación.
Ciudades, las vengo a construir.
Ciudades, del polvo volverán.
Sim, Piazzolla.
Ainda que as cidades queiram o oposto
não percamos a esperança.
≠
Posted in Sem categoria on 1 de outubro de 2010 by Dmítri Cerboncini Fernandeslat. diffèro,differs,distùli,dilátum,differre ‘espalhar, semear, espedaçar, agitar, abalar, difamar, retardar, dilatar, diferir’
O sonho da antiga metafísica – redundância pós-moderna? – era o de atingir a identidade plena. Sujeito e objeto, Deus e criatura, homem e natureza eram alguns dos termos opostos e complementares que, em um devir ideal, fundir-se-iam em apenas uma substância.
Hegel, o último filósofo-profeta, conferia ao que chamava de síntese, isto é, à unidade proveniente do movimento dialético entre os contrários, um estado qualitativamente superior ao daquele em que se encontravam. A História representaria, desse modo, a sucessão de fatos e realidades empíricas que, se vistos em conjunto e por meio da visão Ideal, se desvendaria ao sujeito cognoscente como o exuberante sentido da realização do Espírito.
Quer dizer, por trás de todas as mortes, de todas as guerras, de todas as misérias deste mundo estaria agindo uma mão providencial que, sem se dar à percepção imediata, ordena o real em direção ao Todo, ao Universal, à Síntese Suprema, destino glorioso reservado à Humanidade guiada pela astúcia da razão de um Deus Dialético.
O ideal de realização universal de Hegel na história foi apreendido por Karl Marx sob o crivo das inversões materialistas bem conhecidas de todos nós. Em vez de traçar os caminhos do Espírito, cabia a Karl Marx interpretar o movimento material do mundo via a nova ciência que ele visava a estabelecer, o materialismo dialético. Posicionavam-se, dentro de sua visão, duas classes antagônicas em disputa perene, a dos expropriadores e a dos expropriados.
O advento do modo comunista de produção, a ser implantado via revolução da última categoria histórica de expropriados, a dos proletários modernos, figurava como sucedâneo terreno e terrestre à realização do Espírito Hegeliano. Ver-se-ia estabelecido, por fim, um novo Eliseu, este humano, demasiadamente humano.
O Universal se faria tangível no instante em que as classes se dirimissem em uma nova Humanidade, a Humanidade livre dos grilhões que a dividia atemporalmente entre dominantes e dominados. Importa aqui notar que tanto idealística, quanto materialisticamente, com o perdão da excessiva adverbialização, o alvo não deixava de se referir a alguma espécie de elemento Universal, em outras palavras, de uma meta, física ou não, representada por um elo de união, de uma identidade simultânea entre o concreto e o abstrato, o conceito e a coisa. Nações, cores, raças, gêneros, todas essas divisões desapareceriam de vista logo quando o homem se livrasse daquilo que não o permitia ser de fato Homem. Eis no consistia a “verdadeira” libertação.
Século XX.
“Muro de Berlim”>>> “Reunificação das duas Alemanhas”>>> “Globalização”>>>”Fim da História”.
Século XXI
Segundo os próceres da nova idéia de liberdade, aí está tudo de importante que ocorreu no século XX. Um desavisado poderia pensar que com a “globalização” e a “reunificação dos dois mundos”, o comunista e o “natural”, teríamos atingido o objetivo final da proclamada Universalização. Não?
Jamais se gozou e se buscou tanto o gozo nas profundas entranhas e reentrâncias da propalada “diferença”. Todos se consideram diferentes e desejam mais do que tudo a diferença. Os próprios “dinossauros” universalistas hoje nada mais são do que uns “diferenteões”. Afirmar o Universal é ser diferente. Ser diferente é universal.
Mulher, Negro, Brasileiro, Etíope, Emo, Nikófilo, Filósofo, Protetor de Animal, Fotógrafo, Escritor, Advogado, Ecoativista, Comunista, Professor, Rapper, Tecnólogo da Informação, Marqueteiro, Prostituta, Intelectual, Frankfurtiano, Tarado, Tucano, Racionalista Cristão, Mano, Neonazista, Cinéfilo, Chavista, Consumidor Consciente, Blogueiro, Guitarrista, Foragido de Galés, Amolador de Facas, Boy, Executivo, Malhado, Amante, Bourdiesiano, Carregador de carrinhos de supermercado, Proxeneta, Esteticista, Esteta, Trabalhador CLT, Pedófobo, Militar, Estudante, Baladeiro, Psicanalista, Telespectador de seriados norte-americanos cool, Pós-Graduando em Sociologia e outros infinitos diferenciais identitários são incessantemente louvados, conquistados, rechaçados e, na medida do possível para cada um, intercambiados pelos seus ocupantes.
É aí que reside a universalidade hodierna: na impossibilidade de qualquer síntese universal, no reconhecimento de que a sociedade e suas posições estão dadas, cabendo a nós, tão-somente, aferrarmo-nos a algumas delas e a nos resignarmos à combinação que nos represente melhor. Tem que ser a melhor. Senão, o que seremos?
Somos o que queremos/podemos ser, e não queremos nada mais do que isso: ser o que está aí, ser o dado, ser o concreto-real. Que o século XIX enterre consigo seus sonhos, ideais, utopias e devires “autoritários”! Somos, afinal livres! Livres em nossas diferenças! Universais em nossos isolamentos! Ensimesmados em busca de nós mesmos no que o Grande Outro, a sociedade, nos dispõe!
A liberdade reside na escolha que podemos fazer entre labels: basta deixarmos fluir a afinidade entre eles e desfrutarmos do resultado: o nosso Ser moderno, agregado de literato, pobretão, mulherengo, viajante, ateu e cínico, por exemplo, ou de trabalhador, responsável, corinthiano, evangélico, administrador e BBBlófilo.
As possibilidades estão aí: basta sabermos como agarrá-las: espalhemos, semeemos, espedacemos, agitemos, abalemos, difamemos, retardemos, dilatemos, difiramos, afinal!
Difiro, logo existo.
Existe?
Embotado
Posted in Sem categoria on 31 de agosto de 2010 by Dmítri Cerboncini FernandesA brutalidade nossa de cada dia resulta na paralisação parcial do sentimento e da ação: o embotamento.
Embotados somos, embotados ficamos, embotados seremos.
Ao ataque, à defesa, ao ataque, à defesa, à defesa, ao ataque.
Aos que insistem em dar vida ao espírito, há uma solução na medida certa: os remédios. Eles tornam exatos os movimentos e os pensamentos, tirando do olhar o pouco do desespero vívido ou da alegria desesperada que volta e meia irrompe pela gente.
Afinal, existe na natureza semelhança tão precisa como a que nivela a opacidade das retinas dos deglutidores de Fluoxetinas, Prozacs, crack ou maconha? Hoje em dia alguém é capaz de atingir o Nirvana prescindindo das abençoadas receitas – industrializadas ou caseiras – de equilíbrio?
Sejamos iguais em nossa diferença: sejamos embotados, cada um à sua maneira.
Há o que se embota por estar pleno de satisfação; o mundo não é mais capaz de lhe proporcionar o que ele quer, pois ele não sabe mais o que quer. Há o que se embota por desconhecer seus limites; desejou pouco, talvez um filho, uma família, um marido, um pouco de sucesso, um naco de beleza. Os teve, mas descobre que com o tempo, o mundo cada vez menos lhe diz respeito. Há o que se embota pela falta. Falta tudo, falta amor, falta pão, falta carinho. Pois tristeza demais, ou alegria de menos também embotam.
Atrativa e pegajosa, a situação de embotamento arrasta tudo e todos à não-reflexão. Falta pouco para se anular o pensar, presumida “qualidade” intrinsecamente humana. Demasiadamente humana.
Embotados de todo mundo, uni-vos! E deixemos que o furor frenético do Eu termine seu trabalho de embotamento dos seres mais unidos e isolados que a história jamais viu.
Ainda falta para nos embotarmos do embotamento.
Soterrados no concreto
Posted in Sem categoria on 18 de julho de 2010 by Dmítri Cerboncini FernandesSão Paulo cresce a olhos vistos!
De1982 a 2007, 6728 edifícios foram construídos na pujante capital. O que representa, em média, a exata ereção de 1,35627229 novo prédio por dia.
Que magnífico! Com orgulho anunciamos números que nos tornam melhores, mais ricos e felizes. O futuro é para cima.
Vivas aos infindáveis “lançamentos”!
Vivas aos majestosos “empreendimentos”!
Vivas aos arregimentados jovens periféricos de fim de semana, que com um entusiasmo invejável agitam bandeiras sem causa anunciando em frente às moradias vindouras – que nunca serão deles – o advento de mais um caixote fálico concretado na cidade!
Quanta beleza arquitetônica expressam as fachadas talhadas de varandas semi-circulares e cores discretas! Quanta alegria e aconchego suas grades reforçadas com fios eletrificados, câmeras de segurança e concertina nos transmitem!
O minimalismo que dá o tom do mundo de hoje chega a ser comovedor; necessitamos apenas de alguns cubos para sobreviver: um grande, o edifício cúbico, que comporta um cubo interno, o apartamento, que, por sua vez, guarda cubos de metros quadrados – os cômodos – que contêm a cúbica televisão. Sem contar o cúbico automóvel, nosso nós-outro.
Como bonecas russas, as coisas se encaixam perfeitamente. Mundo melhor não há nem nunca haverá.
Segurança, bem-estar, espaço-gourmet, churrasqueira, piscina, salão de musculação, de festas, suítes – muitas suítes – garagem privativa, guarda-volumes e muito mais. Quase sempre repletos daquele triste vazio modorrento típico dos condomínios burgueses… Mas que importa, já que paisagens paradisíacas repletas de área verde, espaço e céu aberto margeiam os condomínios… ainda que seja no mundo das idéias, ou nos desenhos das plantas distribuídas nos faróis de sábado.
Sim, o distante sonho de cidade arejada e arborizada é jogado em nossa cara a cada novo panfleto que comemora e anuncia o cravejamento de mais uma torre na terra bandeirante. Afinal, nenhum dos compradores reclama da ausência das bucólicas paisagens ao dar de cara com seu vizinho de prédio coçando o pé a menos de seis metros de sua lúgubre varanda que jamais vê a luz do sol… E quem precisa de sol, do Sol, de luz, de verde, de ar e de todas essas ninharias, a não ser passarinhos e os eternos insatisfeitos?
Brasil, o país do futuro, um país de todos.
Como tudo na vida, o progresso cobra seu preço, ainda que mínimo, comparado com as benesses que proporciona.
O vovô que morava na casinha com jardim do bairro meio periférico teve que se mudar. Velhinho e simpático, seu lar foi comprado pelo empreendedor. Assim como os de seus vizinhos. O quarteirão se modifica, residências devem vir abaixo; é mais um símbolo de glória e conquista que se anuncia.
Vivas eternos, e glória aos empresários do ramo da construção de São Paulo, do Brasil e do mundo!
Hão de convir que ninguém contribui mais do que eles para o intumescimento da comunidade paulistana… Portadores do progresso, quantos empregos ofertam aos personagens queridos por todos os paulistanos natos, seus irmãos de obra, os nobres peões; quantas oportunidades esses simpáticos, abnegados e visionários senhores grisalhos nos trazem. Sem eles, nada seríamos…
Vivas aos bravos vereadores, prefeitos, governadores, presidentes, deputados estaduais, deputados federais, senadores e todos aqueles que merecem nossa gratidão eterna! Firmes e convictos, criam o ambiente perfeito para que nossas incorporações floresçam. São Paulo só se tornou o que é graças ao infatigável trabalho desenvolvido por eles em prol da população!
Em terra tão fértil que tudo dá, segundo nosso caro Policarpo Quaresma, até mesmo se nela jogarmos cimento nascem prédios.
É esta Verdade que os incorporadores paulistanos nos provam a cada dia, aliás, mais do que uma única vez por dia.
O Príncipe está nu
Posted in Sem categoria on 4 de julho de 2010 by Dmítri Cerboncini FernandesApesar dos problemas de verossimilhança e da péssima atuação de alguns atores, o filme “O Príncipe” (2002), do cineasta Ugo Giorgetti, vomita com perfeição em nossa cara branca, meio-esquerdista e pequeno burguesa de paulistanos amedrontados, a loucura coletiva que nos acomete nesta cidade que, a cada dia que passa, vê suas luzes se apagarem – se é que já estiveram acesas…
O Brasil que deu certo amalgama-se aqui, no centro “expandido” da engalanada, luxuriosa e purpurinada megalópole andrajosa, fedentina e desdentada.
A cada naco de gente que tropeçamos nas calçadas pestilentas e quebradiças beirando o Minhocão corresponde um Porsche ou uma BMW pousados nos assépticos postos de gasolina da Rua Colômbia, nos Jardins.
Para além das aferições e relações sociológicas, porém, mendigos e automóveis irmanam-se mais do que se pode presumir: ambos são paródias de ready-mades, prontos a se tornar obras de arte, seja por meio das objetivas de objetivos fotógrafos da miséria, seja pelo olhar embasbacado dos bons pais de família que sabem apreciar a beleza de uma máquina.
Ao fracasso pessoal dos winners sociais, retratados na película como antigos esquerdistas que viriam a capitular à sedução do mercado e suas infinitas (im)possibilidades, equipara-se o apego desesperado a Jesus dos fracassados sociais, os “últimos” que se querem os primeiros – de preferência, já neste mundo.
O clientelismo do nordestino que toma conta dos automóveis em frente à ex-casa do silencioso e discreto pequeno burguês da Vila Madalena fugido a Paris revela mais do que ele se lembrava do Brasil. Sua pressa em se desvencilhar daquele íntimo desconhecido é proporcional ao ímpeto de deixar o país “que se apaga”, o “Brasil obscuro” para trás mais uma vez. E sem pestanejar, o afrancesado redescobre que os Trópicos não são para qualquer um.
De fato, os esquerdistas da década de 1960 – e não da de 1970, como erroneamente o filme dá a entender – que não fugiram do país, tiveram que fugir de si nesta cidade em que a efetiva sociabilidade subsiste tão-somente nas praças do centrão, em meio às fogueiras dos lumpens que insistem na opção da vida.
Opção esta que diz respeito aos mais “fortes”: a alma do sensível professor de história não suportou a falta de luz. Ou seria o exagero dela?
Tudo e todos fora do lugar?
Talvez tudo esteja no lugar em demasia.
Irremediável, estatística e estaticamente no lugar.
E, por fim, aos que ficam um recado.
Que nos apeguemos à única opção possível: a prática da caridade desinteressada. Indelevelmente distantes dos de baixo, sem estômago e condições objetivas para nos comprazermos com os de cima, resta-nos confraternizar com os necessitados de toda ordem doando o nosso valor-trabalho. Triste paródia do contato com o “povo” buscado pela outrora politizada classe-média que sonhava com a revolução.
Eis o país do futuro: o mundo se abrasileira com rapidez. Não há mais possibilidade de identificação que não seja o Corinthians, o Brasil, o Manchester, o Milan…
PS: O que se fez francês sente o grito das banlieus? Será que vai querer voltar quando a água bater na bunda também por lá?
Olhai para as aves do céu
Posted in Sem categoria on 9 de fevereiro de 2010 by Dmítri Cerboncini FernandesOlhai para as aves do céu
que não semeiam nem segam
nem fazem provimentos nos celeiros;
e, contudo, vosso Pai celestial as sustenta.
***
Comprei um desses receptáculos de alimento para beija-flor.
Todos os dias, enquanto trabalho, a varanda se enche não só de beija-flores, mas também de pássaros menores e maiores sedentos pela seiva que eu sempre lhes disponibilizo.
A Celia, assistindo ao espetáculo diário que os pássaros do concreto nos proporcionam teve uma inspirada interpretação da famosa parábola de Jesus, que tanto incomoda os protestantes e demais próceres do trabalho pelo trabalho.
Foi o seguinte:
O dia em que a humanidade for humanidade, todos poderemos ter a despreocupação dos pássaros para conosco, mas não para com os outros.
O forte egoísmo reinante que nos inquieta pelo pão-nosso de cada dia daria lugar à doce e constante vigilância para que o pão-deles de cada dia não falte.
Deles, importa dizer, seja de quem for. O outro virá antes de nós.
Nessa Utopia, haverá constantemente alguém pronto a abastecer o receptáculo de seiva a todos, fazendo o papel de Pai Celestial. Na verdade, todos quererão cumprir este divino papel.
Liberdade
Posted in Sem categoria on 3 de fevereiro de 2010 by Dmítri Cerboncini FernandesDe tão artista, zombo da arte.
De tão cientista, zombo da ciência.
De tão amigo, zombo da amizade.
De tão religioso, zombo da religião.
De tanto filosofar, zombo da filosofia.
De tanto amar, zombo do amor.
De tanto odiar, zombo do ódio.
De tão livre, zombo da liberdade.
E assim por diante.
Confesso que começo a achar graça daqueles potros raivosos que se levam a sério em qualquer um dos domínios a que a sociedade os tenha relegado.
Precisam construir auto-justificativas que os enobreçam aos olhos dos demais e aos seus próprios olhos a todo instante.
A sua esferazinha de ação deve ser a melhor por decreto, pois é lá que investiram o sentidozinho opaco e cambiante de suas vidas.
A mais pura, a mais elevada, o posto de onde se vê e se vive com maior lucidez, empatia e altivez o resto…
Pior é quando o frenesi distintivo toma o partido da “liberdade”…
Quem não partilha do partido é acusado de ressentido, fracassado, religioso, cientista, medíocre, prisioneiro etc…
Os condicionantes de todos e de tudo devem ser revelados, com a exceção do meu, é óbvio, sob pena de a farsa em que “decidi” viver me seja jogada na cara.
Lutam quixotescamente contra o tal “todo”.
O “todo”, no entanto, é implacável até mesmo com o potros mais livres…
Aproveitemos o que a condição burguesa nos concedeu, arautos da liberdade!
Zombemos da própria zombaria sem termos de nos entrincheirar em um dos conventículos disponíveis para tanto…
Mas não!
Aí a liberdade é demasiada! Pois corda é preciso quando se quer enforcar-se. Mesmo que seja na liberdade.
Ora, acusemos os outros! Isto sim é fácil de se fazer. Assim como o faço agora.